A Relatividade das Coisas

“O que é infinitamente grande não tem nada que lhe seja exterior; e o que é infinitamente pequeno não tem nada que lhe seja interior”.

“O que não tem espessura não pode acumular-se, mas pode ser estendido”.

“Se um bastão de um pé de altura for divido, a cada dia, em dois, continuará assim por uma infinidade de gerações”.

“O vôo de uma flecha lançada rapidamente se compõe de espaços que não estão em movimento nem em repouso”.

“No momento em que se nasce, começa-se a morrer”.

Fragmentos de Huizi (fonte, Livro de Zhuangzi, 33)



COMENTÁRIOS

Para finalizar nossa seção de textos, fazemos uma exposição de alguns dos aforismos de Hui zi, um dos expoentes da Escola dos Nomes, também chamada de “sofismo chinês”.

Hui zi foi amigo de Zhuangzi (Zhuangzi, 33) com quem travava fabulosos diálogos. Muitas de suas máximas estão espalhadas pelo livro do autor taoísta, que o tinha em alta conta pela sua inteligência e argumentação.

Os Nominalistas eram mestres no discurso e na linguagem, acreditando que o uso das palavras era importante para a vinculação das idéias, mas que, ao mesmo tempo, elas possuíam autonomia sobre o real, podendo proporcionar construções díspares.

É o caso dos paradoxos propostos por Hui zi, que muita semelhança guardam com seus contemporâneos gregos. Seu objetivo era demonstrar que, pelo uso correto e intencional dos termos e denominações, podemos fazer as mais abstratas construções, destruindo (ou articulando) os sistemas lógicos pela deturpação das premissas básicas.

Mas qual era o ponto principal deste discurso? A relatividade das coisas. Tudo é relativo, e por isso as idéias não se ligam diretamente à realidade, mas apenas suscitam processos na mesma. Não há uma separação absoluta entre as coisas. Se um animal é morto, por exemplo, ele deixa de existir enquanto animal, mas se transforma em alimento para outro. Logo, os estados são transitórios e se alternam, não tendo fim.

A importância disso reside no fato de que tudo converge para uma única realidade, embora tudo seja relativo. Como o tudo não é coisa alguma, é do nada que provém tudo. Por isso mesmo, todas as coisas são iguais, e devem ser amadas indiscriminadamente.

Hui zi também pregava o amor universal, e ia mais além do que todas as noções de Amor presentes no Confucionismo, no Moísmo, etc. Para ele, toda e qualquer coisa era um objeto dessa realidade única e, por conseguinte, com semelhanças conosco. Logo, ela deveria ser amada, respeitada, e venerada, em equivalência com todas as outras manifestações da realidade suprema. Hui zi parece ser o fecho perfeito para estes textos: tudo é relativo, mas todas as coisas provêm da mesma fonte.

Resta-nos pensar que fonte é essa: será uma sapiência humana universalista, tal como proposto pelos orientais? Será uma realidade metafísica? Ou será, ainda, uma pura e simples manifestação do homem diante dos mesmos contextos e problemas? Aliás, será que todas essas correntes estão certas, ou nenhuma está? E ainda, suas propostas são temporais, ou atemporais? São reais ou utópicas? Vem de algo além ou da simples constatação do mundo? Esta é, simplesmente, uma resposta que os chineses não quiseram dar. E, na dúvida, Huizi disse a mesma coisa que Confúcio: amem a todas as criaturas, sem discriminações.