Apresentação

Dez lições de Filosofia Chinesa é um livro feito para entendermos um pouco mais sobre o pensamento da Antiga China. Como bem apontou o Sinólogo e tradutor Artur Waley (1979:11), costumamos diferenciar os estudos e transcrições da sabedoria chinesa em duas categorias; uma “histórica” e outra “canônica”. A primeira busca analisar a cultura chinesa tal como um objeto, utilizando uma metodologia seca, científica, sem nunca se aprofundar em suas singularidades e reproduzindo uma série de estereótipos e preconceitos. A segunda, no entanto, vai-se justamente pelo caminho contrário, tentando visualizar no oriente a realização de todas as suas utopias - por vezes escorregando no exagero e no esoterismo, sem contar com suas ocasionais falhas nas referências históricas. Indo a fundo, ela consegue penetrar nas culturas asiáticas de modo especial, conseguindo com sensibilidade absorver as peculiaridades de cada sociedade. No entanto, ao projetar sobre as mesmas as fantasias de um Ocidente degenerado, ela facilmente se desvia para uma perspectiva salvacionista e religiosa, perdendo-se de uma busca explicativa racional e coerente.

Contudo, o tempo da separação entre China e Ocidente está por ser superado, tendo em vista que os estudos sobre a Civilização chinesa estão cada vez mais avançados, permitindo-nos fazer contraposições férteis entre o que as duas correntes podem nos oferecer de bom, tendo por base, antes de tudo, um senso crítico necessariamente treinado e apurado.

Neste contexto, o objetivo do nosso livro é conjugar visões históricas e culturais na análise de textos específicos do pensamento chinês. Queremos, antes de tudo, realizar um estudo sobre certos aspectos da sabedoria chinesa imortalizados nos escritos de grandes autores como Confúcio, Laozi, Zhuangzi, entre outros. Mas de forma alguma nos deteremos em suas características mais superficiais e abrangentes, o que nos aproximará um pouco do campo filosófico da ética. Não queremos, aliás, fugir dessa obrigação: a civilização chinesa é carregada desses valores e análises, e deixá-las de lado é simplesmente ignorar conteúdos culturais básicos do pensamento, o que tornaria qualquer trabalho histórico e filosófico bastante falho.

Tentaremos, com cuidado, articular os textos de forma cronológica e conceitual. A maior parte deles data do período das “Cem Escolas de Pensamento”, quando a China se via próxima de um contexto de crise e conflito intenso. Pensamos se muitos destes escritos ainda não têm uma certa significação para nós, o que discutiremos ao longo de nosso trabalho e na conclusão.

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1a Versão: "Dez lições de Cultura chinesa", em 2000
2a Versão, revisada: 2004